Por Paloma da Silva Barreto
Como pensar uma escola que articule ciência, arte e cultura em tempos de obscurantismo? Essa pergunta abriu o debate online do ciclo Em Tempos Inéditos, realizado pelo Complexo de Formação de Professores da UFRJ, no dia 2 de julho.
Nesta
live, os professores Martha Marandino, da Universidade de São Paulo (USP), e Walter Kohan, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), discorreram sobre o papel da educação em meio à pandemia.
Alfabetização científica em tempos de negacionismo
No atual contexto de crise sanitária, têm-se ampliado os discursos de ataque à ciência e às instituições científicas. “O que a gente vive hoje com relação ao que representa o conhecimento científico para grande parte da população é extremamente desafiador para aqueles que trabalham com ciência, seja na produção ou divulgação”, opinou Martha.
Para a professora da Faculdade de Educação da USP, a pandemia do coronavírus tem mostrado a necessidade de trabalhar a alfabetização científica, tanto na escola como nos espaços de educação não formal.
Esse trabalho educativo passa pela compreensão das diversas facetas da produção do conhecimento científico. “A ciência é sociológica, política, econômica e ideológica”, enfatizou.
Por sua vez, Kohan destacou: “É muito sintomático que neste momento o Brasil não tenha nem ministro da Educação nem ministro da Saúde”.
O professor da Uerj é autor do livro Paulo Freire mais do que nunca, uma biografia filosófica, sobre o mais famoso educador brasileiro. A este importante pensador, Walter recorre para refletir sobre os novos tempos, sem se deixar tomar pelo derrotismo.
“No país de Paulo Freire, não podemos perder a esperança. Esse momento é de pensamento e questionamento. É um momento de perguntas, inclusive a nós mesmos, sobre que ciência fazemos e qual queremos fazer”, completou.
O tempo da educação não é o tempo do mercado
“Há um conflito entre dois tempos. Um tempo é o da arte, da cultura, da educação e do pensamento. Outro é o tempo de uma sociedade preocupada com a produtividade, com o ritmo da economia e do mercado.” Com essa explanação, Kohan fez uma reflexão sobre os conflitos de interesses que envolvem a educação e a ciência na sociedade capitalista.
A partir dessa ideia, os convidados falaram um pouco sobre as dinâmicas de ensino remoto adotadas por escolas e universidades. “As crianças têm dito que sentem saudade dos abraços dos amiguinhos”, comentou a respeito da paralisação das aulas presenciais.
“Há aqueles que acham que esta pandemia acelera o processo de ‘distancialização’ da educação. Na verdade, pode ser o efeito contrário. Estes tempos mostram claramente que as escolas só se fazem quando os corpos se encontram. A pandemia tem mostrado que isso é insubstituível”, completou o professor.
Já Martha relatou que percebeu a angústia dos alunos em não estar com os amigos e com os professores, “inclusive não só do ponto de vista afetivo, mas do ponto de vista do conhecimento”.
A professora acredita na necessidade da inovação na educação para atender às exigências do momento, sem relativizar a importância do encontro físico.
“Eu sou uma entusiasta da criatividade na educação. Mas não há experiência igual à experiência presente, não só na sala de aula como em diferentes contextos educacionais”, ressaltou.
Veja o debate completo com Martha Marandino e Walter Kohan no nosso
canal do YouTube
Além das lives, que acontecem sempre às quintas-feiras, às 17h, o ciclo Em Tempos Inéditos é um conjunto de ações virtuais que inclui depoimentos, entrevistas e fóruns de discussão.
Imagem: Cefortepe: Luiz Carlos Cappellano /Reprodução
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