Pesquisa com estudantes mostra desafios do Complexo
Por Coryntho Baldez
Foto: Estudantes no retorno às aulas / Fábio Caffé
A Comissão de Avaliação do CFP fez um levantamento com licenciandos que concluíram o curso antes da criação do Complexo e constatou que a dicotomia entre teoria e prática docente era uma percepção bastante presente entre os estudantes.
Para a professora da Faculdade de Educação (FE) da UFRJ e coordenadora da Comissão, Ana Prado, a pesquisa revelou que há ainda uma distância considerável entre a universidade e a escola pública.
Nesta entrevista, ela ressaltou que os concluintes avaliaram positivamente a formação proporcionada pela UFRJ, mas apontaram obstáculos a superar, como a fragmentação curricular e o distanciamento em relação à educação básica.
O levantamento mostrou a importância que representou a criação do Complexo de Formação de Professores da UFRJ, em dezembro de 2018, de acordo com Ana Prado.
“Nosso próximo desafio é avaliar os estudantes que tiveram toda a formação na UFRJ já com a existência do Complexo. Com esses dados, teremos a ideia das consequências desta política na formação profissional dos docentes”, avaliou.
A coordenadora da Comissão de Avaliação falou ainda sobre os avanços no processo de institucionalização do Complexo na Universidade, entre outros temas.
Ana Prado, coordenadora da Comissão de Avaliação do CFP (Foto: Daniel Gallo)
– Qual o papel da Comissão de Avaliação do Complexo de Formação de Professores?
Ana Prado – A Comissão de Avaliação do Complexo de Formação de Professores foi uma demanda do Comitê Permanente do CFP. A razão disso é que uma das atribuições do Comitê é justamente avaliar e monitorar as próprias ações do Complexo. Foi então criada essa Comissão, formada por docentes, técnicos em educação e estudantes extensionistas das várias licenciaturas da UFRJ.
– E quais são os principais objetivos da Comissão de Avaliação?
Ana Prado – O nosso objetivo é justamente fazer uma avaliação do Complexo, utilizando vários instrumentos de pesquisa para poder analisar o processo de implementação dessa política institucional. Temos dois eixos centrais. O primeiro deles diz respeito à institucionalização do CFP na Universidade, às suas instâncias e suas representatividades e atribuições. Ao mesmo tempo, precisamos avaliar a institucionalidade do CFP nas redes de ensino e escolas parceiras. E o segundo eixo está relacionado à formação inicial e continuada de professores.
– Existe algum acompanhamento ou pesquisa sobre os avanços e obstáculos desse processo de institucionalização do Complexo no ambiente universitário?
Ana Prado – Estamos fazendo duas pesquisas iniciais. A primeira tem como objetivo mapear alguns dados das licenciaturas na UFRJ a partir do Censo de Ensino Superior. Hoje sabemos que temos 9.600 estudantes em nossos cursos, o que representa 1/3 de todos os graduandos, segundo dados de 2020 do Censo do Ensino Superior (MEC/INEP). Desse total, 70% pertencem às 29 licenciaturas presenciais da UFRJ e os 30% restantes estão matriculados nos nossos três cursos de educação à distância. Esse mapeamento dos licenciandos da Universidade foi uma das nossas primeiras ações.
A segunda pesquisa refere-se ao processo de institucionalização via instâncias do CFP, por meio da criação dos NPPLs [Núcleo de Planejamento Pedagógico das Licenciaturas] de cada curso; dos GOPs [Grupos de Orientação Pedagógica] e das REPs [Redes de Educadores de Prática de Ensino]. Começamos pelos Núcleos de Planejamento Pedagógico da Licenciatura por serem o principal eixo de articulação entre a política mais central e sua capilarização nos cursos. Desta forma, torna-se uma instância privilegiada para a análise do processo de implementação da política.
– E que outra ação da Comissão você destacaria?
Ana Prado – Também fizemos um questionário com estudantes concluintes que não vivenciaram a experiência do Complexo para compreender como era a realidade dos cursos antes da presença do CFP na vida acadêmica. O que constatamos é que a dicotomia entre teoria e prática era algo bastante presente na visão dos estudantes. Mais do que isso, verificamos que há uma distância considerável entre a universidade e a escola pública. Esse levantamento mostrou a importância de termos na UFRJ um Complexo de Formação de Professores. Os concluintes avaliam positivamente a formação proporcionada pela UFRJ.
Muitos a definiram como uma instituição de excelência devido ao aprofundamento teórico e à qualidade do corpo docente, mas ainda com fragilidades: a dicotomia entre teoria e prática, com a secundarização do conhecimento pedagógico e da docência; a fragmentação da grade curricular; a falta de diálogo entre as licenciaturas; e o distanciamento da educação básica.
Nosso próximo desafio é avaliar os estudantes que tiveram toda sua formação na UFRJ já com a existência do Complexo. Com esses dados teremos a ideia das consequências desta política na formação profissional dos docentes.
– Em relação aos estudantes que já convivem com as atividades do Complexo, existe alguma ação prevista?
Ana Prado – Sim, também vamos fazer um levantamento com estudantes que passaram todos os anos da sua formação com ações e projetos relacionados ao Complexo, com as suas instâncias e que estão tendo uma relação mais próxima com as escolas. E mais do que isso, iremos também investigar como as atividades do Complexo foram um fator de estímulo para a permanência dos licenciandos em seus respectivos cursos. Essas ações da Comissão de Avaliação incidem sobre os estudantes, que serão os futuros docentes da rede de educação básica.
– E o processo de institucionalização junto às licenciaturas, como anda?
Ana Prado – Do lado das instâncias, que se relaciona com o processo de institucionalização do Complexo na UFRJ, já fizemos uma série de entrevistas com coordenadores de cursos, que também acumulam a coordenação dos Núcleos de Planejamento Pedagógico das Licenciaturas (NPPLs). Esses núcleos são uma das instâncias do CFP. As outras são o Grupo de Orientação Pedagógica (GOP) e a Rede de Educadores de Prática de Ensino (REP). O objetivo dessas entrevistas, que estão em curso, é levantar e identificar os desafios, os obstáculos e os aspectos positivos desse processo de institucionalização do Complexo na Universidade.
– Já é possível tirar algumas conclusões desse levantamento?
Ana Prado – O que já mapeamos dessas entrevistas é que, a partir da criação do Complexo, se começa a ter uma grande reflexão sobre como formar os nossos professores da educação básica e a relevância das parcerias com as escolas da educação básica. As entrevistas com os coordenadores dos NPPLs mostram que o Complexo está possibilitando importantes discussões sobre, por exemplo, a forma como o professor atua, a sua formação e, ainda, como inseri-lo em um amplo debate sobre formação docente inicial e continuada.
– Como tem sido essa relação com as nossas inúmeras licenciaturas?
Ana Prado – Podemos dizer que o Complexo tem sido implementado com uma série de propostas que são comuns às licenciaturas, mas com respeito às especificidades, à pluralidade e à autonomia dos cursos. Ao mesmo tempo, com essa relação, foi possível verificar a existência de determinadas demandas dos cursos, entre elas alguns ajustes em seus programas, especialmente por causa da reforma curricular.
– Alguma conclusão que aponte para uma mudança mais estratégica no campo da formação de professores?
Ana Prado – O que temos visto como resultado do processo de institucionalização das instâncias do Complexo é a possibilidade de um maior diálogo entre todas as licenciaturas e de construção de um projeto conjunto com as escolas parceiras para formar os profissionais docentes do futuro.