Formação inicial do professor começa nas vivências escolares, diz coordenador de cátedra de educação básica da UFMG
Foto de abertura: Júlio-Diniz Pereira foi um dos expositores do 2º Seminário de Integração entre Cátedras de Educação Básica da UFRJ, UFMG e USP. (Crédito: Daniel Gallo)
Uma política nacional de formação docente deve valorizar a relação dialógica entre universidade e escola, de acordo com o professor Julio Diniz-Pereira, coordenador acadêmico da Cátedra Fundep Magda Soares de Educação Básica do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT/UFMG).
Segundo ele, alguns países, entre os quais o Reino Unido, adotaram um modelo que praticamente abriu mão do papel das universidades na formação de novos professores da educação básica: “Em governos conservadores de direita, houve este movimento de tirar das universidades a formação de professores”.
Palestrante do 2º Seminário de Integração entre Cátedras de Educação Básica da UFRJ, UFMG e USP, realizado em 15 de agosto, Diniz-Pereira ressalta que o discurso de que “se aprende a ser professor na prática” ou “no chão da escola” está bastante enraizado também no Brasil.
Aceitando-se essa premissa, prossegue o pesquisador, o país caminharia para validar o modelo de formação docente com foco único e exclusivo na prática. “Vamos esquecer da universidade?”, indaga.
A participação da escola na produção do conhecimento profissional e na formulação de políticas educacionais de formação docente é fundamental, enfatizou, mas deve ocorrer “com a escola, e não na escola, como sugere o próprio nome do seminário. E isso faz toda a diferença”.
Diniz-Pereira propõe também a adoção da expressão "formação acadêmico-profissional", que usou pela primeira vez em 2008, no lugar do termo legal e amplamente difundido “formação inicial”.
O coordenador da Cátedra Fundep Magda Soares ressaltou que formação inicial e formação continuada são termos consagrados no campo da educação e que não tem a pretensão de substituí-los.
Ele argumenta, contudo, que as expressões foram traduzidas literalmente do inglês e que há uma dubiedade, por exemplo, quando se pretende restringir a ideia de formação inicial ao período a partir do qual o estudante entra em um curso de licenciatura até a sua conclusão.
“Mas todos sabemos que, no caso da formação de professores, isso não é verdade. Existe uma etapa anterior, que a gente chama de ‘formação ambiental’. É uma formação que se dá espontaneamente, por meio da trajetória escolar das pessoas, das vivências escolares e de outras experiências, inclusive fora da escola”, destacou.
A professora e o professor, segundo ele, já tiveram “milhares de horas” de contato com profissionais da educação e com diversos modelos e vivências escolares, antes mesmo de abraçar a profissão docente.
“Essa é uma característica sui generis da docência, do magistério”, completa.
Assista aqui a íntegra da palestra de Julio Diniz-Pereira no 2º Seminário de Integração entre Cátedras de Educação Básica da UFRJ, UFMG e USP.
