A escola na cidade e a cidade na escola: o vigor de uma gestão democrática

Por Coryntho Baldez

Foto: Daniel Gallo

Não faz sentido pensar em formação docente desvinculada da realidade da cidade e do território em que a escola está inserida.

Quem afirma é o professor Saint Clair Marques da Silva, diretor da Escola Herbert José de Souza, da rede de educação básica de Belo Horizonte, localizada em um bairro da região norte, a mais pobre da cidade.

Ele foi um dos expositores do 2º Seminário de Integração entre Cátedras de Educação e Formação Docente da UFRJ, UFMG e USP, realizado em 15 de agosto, no Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE/UFRJ), no Flamengo.

Em entrevista ao site do Complexo, o dirigente sublinhou que pensar em um “terceiro espaço” de formação docente exige pensar, também, no conhecimento das comunidades construído em suas relações com os territórios.

Saint Clair também destacou a importância de uma gestão coletiva e democrática na rede básica para o planejamento e a execução de projetos que envolvam a escola, a universidade e a comunidade.

É o caso do Projeto Ambiental na Bacia do Onça, desenvolvido na escola Herbert José de Souza, cuja comunidade está inserida em uma área de alto risco hidrológico e geológico, onde está sendo construído o Parque Ciliar do Ribeirão Onça, o maior do Brasil.

“Atualmente, 1000 famílias já foram retiradas da mancha de inundação. E nos espaços que estão desocupados, as comunidades estão se organizado para ocupá-los de diferentes maneiras, com a participação da escola nesse processo”, contou Saint Clair.

Veja aqui a íntegra da palestra do dirigente e leia abaixo a entrevista concedida ao nosso site.

– Qual a importância do 2º Seminário de Integração entre Cátedras de Educação Básica e Formação de Professores, realizado em 15 de agosto, no Rio de Janeiro?

Saint Clair – Esse seminário é muito importante para nós, não só porque reúne as três cátedras de educação básica da USP, da UFRJ e da UFMG, mas, sobretudo, pela oportunidade que se tem de fazer uma articulação mais profunda, mais profícua, entre as universidades e a educação básica. Eu creio que esse caminho é importante, precisa ser trilhado e vai trazer contribuições para a universidade e para a escola.

– E de que maneira você avalia os entraves e desafios no Brasil para a formação de professores da educação básica?

Saint Clair – Para mim, não faz sentido pensar em formação de professores desvinculada da realidade das escolas. E a realidade das escolas está ligada à realidade do território. Se a gente quer pensar em um terceiro espaço, precisamos pensar no conhecimento das comunidades construído em suas relações com os territórios.

– A escola, então, não pode ficar alheia à história e às questões que se relacionam ao território em que está inserida?

Saint Clair – A comunidade escolar é afetada pelas demandas, pelos problemas e pelas potencialidades do território. Então, a educação tem que lidar com questões mais gerais, como diretrizes, normas, regulamentações, conteúdos e currículos, mas ela precisa lidar também com o conhecimento que é construído nos territórios. O que acontece no território afeta a escola.

– E qual a importância de uma gestão coletiva e democrática, em parceria com a comunidade e com os professores, para o desenvolvimento de um trabalho do tipo que é realizado em sua escola?

Saint Clair – Em Belo Horizonte, as direções são eleitas pela comunidade escolar. Se a pessoa, se a família tem um filho na escola, tem direito a um voto. Se tem três filhos na escola, tem direito a um voto. E cada professor tem direito também a um voto. No nosso caso, a nossa gestão foi eleita pela comunidade com a proposta de que seja uma gestão coletiva. Não sou eu que defino as coisas, não sou eu que dou a palavra final.

– Explica melhor como funciona a gestão?

Saint Clair – A gente procura discutir com a direção, a vice-direção, as coordenações, ouvir os professores e ouvir a comunidade para poder tomar as decisões. A gente almeja que a escola esteja na comunidade e a comunidade na escola, da forma mais democrática possível. Evidentemente, há alguns momentos que são demandas da escola em relação às secretarias e a outros órgãos. Isso passa pela decisão do coletivo de professores e da direção. Mas, o que for possível ouvir a comunidade e ouvir os demais parceiros, é fundamental que isso aconteça para que a escola possa, de fato, fazer um trabalho de excelência.


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