CFP cria espaço inovador de diálogo com escola básica, diz diretora de Licenciatura do CAp

Por Coryntho Baldez

Foto de abertura: Colégio de Aplicação da UFRJ / Fábio Caffé

O Complexo de Formação de Professores está consolidando um amplo espaço de diálogo entre a universidade e a escola básica, de acordo com Raquel Fonseca, diretora de Licenciatura, Pesquisa e Extensão do Colégio de Aplicação (CAp/UFRJ).

Esse espaço comum que reúne diferentes sujeitos da educação, segundo ela, poderá enfrentar um dos maiores desafios da formação docente: o descompasso temporal entre a academia e o cotidiano escolar.

Nesta entrevista, Raquel salientou também que o Fórum das Licenciaturas, criado em abril deste ano, contribuirá para institucionalizar a necessária interlocução entre as unidades e os segmentos vinculados à formação de professores na UFRJ.

A dirigente afirmou, ainda, que a escola pública é um importante reduto contra grupos sociais que querem manter espaços de dominação e poder. Somente a partir dela, “é possível pensar em políticas verdadeiras de inclusão”, assegurou.

Raquel: "Valorização da profissão docente e dos cursos de licenciatura é um desafio histórico. Foto Daniel Gallo."

– O CAp está engajado na construção do Complexo desde a sua criação. Como você avalia até aqui essa experiência inédita de formar professores a partir de uma interação sistêmica com a escola básica?

Raquel Fonseca – A minha avaliação sobre a experiência que temos vivido com o Complexo é muito positiva. Estamos construindo importantes espaços de diálogo entre o estudo acadêmico e as escolas. Contudo, como toda experiência inédita, temos também passado por contratempos relacionados ao cotidiano escolar. Por exemplo, às vezes é difícil conciliar os horários dos professores e conjugar as atividades de sujeitos que atuam em instâncias muito diferentes. Mas precisamos enfrentar essas questões para promover mais esses espaços de diálogo.

– Que aspectos positivos você ressaltaria?

Raquel Fonseca – A nossa experiência é certamente muito proveitosa. Já conseguimos, por exemplo, lidar com a diferença entre o tempo da universidade, que é o da elaboração do conhecimento, e o tempo veloz da mudança social, que chega mais rápido à escola básica. Como apontou o professor António Nóvoa, há um descompasso temporal entre o que se produz na universidade e as céleres mudanças com as quais a escola precisa lidar.

– E qual seria o papel do Complexo diante desse desafio?

Raquel Fonseca – Considero o Complexo fundamental para fazer o ajuste desse descompasso temporal na produção do nosso conhecimento. Estamos já há alguns anos trabalhando nessa articulação. E acho que é exatamente esse o caminho, ou seja, promover o diálogo para termos a efetiva valorização do professor que pretendemos formar.

– Que papel você acha que o Fórum das Licenciaturas, lançado recententemente, pode cumprir para romper a histórica fragmentação acadêmica no campo específico da formação docente?

Raquel Fonseca – O Fórum das Licenciaturas da UFRJ envolve o Complexo, os coordenadores e professores das licenciaturas e a escola básica, por meio da representação do Colégio de Aplicação (CAp). Ele terá um papel central na nossa organização. O Complexo é uma instância ainda em construção, uma experiência inédita, e estamos organizando e reorganizando os seus rumos. O Fórum institucionaliza o diálogo entre esses segmentos tão representativos para a formação do professor.

– Pode detalhar um pouco mais?

Raquel Fonseca – É nesse lugar em que os coordenadores das licenciaturas, do Complexo e da unidade de educação básica da UFRJ, o CAp, estão em articulação para compreender as demandas de cada uma dessas instâncias. Esse fórum político de discussão entre essas representações vai ajudar na consolidação das políticas do Complexo de Formação de Professores. Então, é um espaço fundamental.

– E quais são hoje os maiores desafios da formação inicial aqui na UFRJ?

Raquel Fonseca – São muitos, mas existem, pelo menos, dois grandes desafios. Um deles é a manutenção desses espaços de diálogo que estamos construindo. O país vem de um histórico recente de sucateamento da educação e, muitas vezes, somos obrigados a ficar apagando incêndios relacionados à falta de infraestrutura na área da educação. É uma situação que nos retira o espaço para planejar e refletir sobre uma boa formação. Portanto, um dos grandes desafios nossos é justamente a manutenção desse espaço de diálogo entre universidade e escola. Ou seja, um lugar em que diversas ‘cabeças’ vão pensar o profissional da educação que precisamos formar para lidar com uma sociedade tão diversa, tão cheia de desigualdades e em constante transformação.

– Qual o segundo grande desafio?

Raquel Fonseca– É um desafio histórico, que passa pela valorização do professor, da profissão docente e dos cursos de licenciatura. Precisamos ter o reconhecimento de que esse professor é um profissional essencial para qualquer sociedade. Quando isso acontecer, certamente teremos mais sucesso em nossas políticas de formação.

– Que papel a escola pública pode cumprir num país que ainda convive com muitas desigualdades sociais e com uma postura hostil de alguns setores a uma educação mais crítica e cidadã?

Raquel Fonseca – A escola pública é o último reduto de resistência contra grupos que querem perversamente manter espaços de dominação, exploração e poder. A escola pública é a única forma de garantir que todos possam ter acesso a uma educação de qualidade. Somente a partir desse lugar, é possível pensar em políticas verdadeiras de inclusão, com cotas raciais e para pessoas com deficiência, por exemplo, entre outras relacionadas às nossas questões sociais.

– E no que toca especificamente à formação do estudante?

Raquel Fonseca – Em um espaço público que assegure educação de qualidade para todas as pessoas, podemos garantir oportunidades para os futuros cidadãos. E isso passa por uma formação para a mudança social, crítica, humanista e cuidadosa. Uma formação, de fato, para todos, e não só para aqueles que têm mais privilégios na linha de partida. Só assim, vamos garantir uma sociedade mais justa e, possivelmente, menos desigual no futuro.


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