Conferência debate a reinvenção da docência na relação entre universidade e escola
Por Coryntho Baldez
A Cátedra Anísio Teixeira de Formação de Professores do CFP promoveu, em 10 de setembro, na sede do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE/UFRJ), no Flamengo, a Conferência Conhecimento, Interculturalidade e Sujeitos na Articulação Universidade e Escola Básica: O futuro da Formação Docente.
A exposição, feita pela professora emérita da Faculdade de Educação (FE/UFRJ), Ana Maria Monteiro, faz parte de uma programação de debates com o objetivo de produzir conhecimento e discutir temas de grande relevância educacional, social e cultural no campo da formação de professores.
Na abertura, a coordenadora acadêmica da cátedra, Giseli Barreto da Cruz, ressaltou que, no decorrer deste ano, houve uma “série de encontros mensais com pesquisadores e professores formadores, que colaboram conosco no nosso processo de reflexão acerca de temas que se relacionam com a formação docente na contemporaneidade”.

Giseli Barreto da Cruz, coordenadora acadêmica da Cátedra Anísio Teixeira, e a conferencista e professora emérita da Faculdade de Educação (FE/UFRJ), Ana Maria Monteiro
“Pensar a docência exige afastamento do nosso tempo”
Integrante do Conselho Consultivo da Cátedra Anísio Teixeira, Ana Maria Monteiro frisou que o tema da sua exposição era bastante ambicioso, mas apontou a urgência de pensá-lo com aportes teóricos que contribuam para compreender os desafios da relação entre universidade e escola e da profissão docente no futuro.
Em um contexto em que, segundo ela, ouvem-se afirmações de que a formação docente não tem futuro e a profissão docente está em extinção, a pesquisadora enfatizou a sua aposta na permanência e na reinvenção da docência.
“É evidente que haverá transformações, porque o mundo está sempre em movimento. Mas defendo a necessidade de refletirmos com seriedade, apoiados em teorias e pesquisas, para compreender os desafios e sustentar o trabalho dos profissionais que atuam nas escolas”, frisou.
A professora da FE/UFRJ recorreu a uma reflexão do filósofo Giorgio Agamben sobre o contemporâneo para salientar que pertence verdadeiramente ao seu tempo aquele que não coincide perfeitamente com este tempo, nem está adequado às suas pretensões.
“Justamente por esse deslocamento, por esse ‘anacronismo’, é que se torna capaz de perceber e compreender o presente. Ou seja, quem coincide plenamente com sua época, quem adere de forma acrítica a ela, não consegue vê-la”, sublinhou.
Portanto, disse, ser contemporâneo exige distanciamento e perspectiva crítica para que se possa iluminar as zonas obscuras e problemáticas do tempo em que vivemos.
“É nesse convite que situo a minha fala, quero pensar a formação docente na relação universidade e escola básica a partir dos desafios atuais, considerando as dimensões do conhecimento, da interculturalidade e da constituição dos sujeitos”, destacou.
“É preciso ir além dos processos de ensinar e aprender”
Para aprofundar a reflexão, Ana Maria Monteiro citou também o educador e filósofo Gert Biesta, para quem a ação educativa envolve três movimentos principais: qualificação, socialização e subjetivação.
“Essas dimensões não são excludentes, ao contrário, estão integradas. Mas o movimento que faço nesta conferência é dar especial atenção ao processo de subjetivação, sobretudo na articulação entre educação básica e universidade”, ressaltou.
Para a docente, a questão da identidade, da diferença e da diversidade cultural é um dos grandes desafios da contemporaneidade.
“Muitos profissionais ainda encontram dificuldades em lidar com isso, mas, ao mesmo tempo, esse desafio abre possibilidades importantes para nossa prática pedagógica”, ponderou.
Segundo ela, a escola tem estado tradicionalmente ligada aos processos de ensinar e aprender, mas se for pensada sob aquelas três dimensões algumas perguntas fundamentais surgem: o que ensinar? como ensinar? o que significa aprender? o que deve ser aprendido?
Outro desafio crucial da escola, segundo Ana Maria Monteiro, é lidar com a diferença. “Como uma instituição escolar, que nasceu historicamente com uma lógica de homogeneização de saberes e de disciplinarização de corpos, pode responder às demandas da diversidade cultural, social e identitária de hoje?”, indagou.
Assista a íntegra da palestra no canal do CBAE/UFRJ no Youtube.