Investimento e formação docente são desafios da educação para pessoas com deficiência
Texto: Ana Luiza Petacci Ilustração: Rodrigo Rocha
Que educação para pessoas com deficiência é possível nesses tempos inéditos? Essa foi a pergunta que pautou a discussão do último debate online do ciclo Em Tempos Inéditos, em sua segunda etapa.
A live, que aconteceu no dia 26/11, recebeu o professor Aurélio Pitanga, docente da Universidade Federal Fluminense (UFF), e Luigi Amorim, professor do Instituto Benjamin Constant (IBC), instituição de ensino referência para deficientes visuais. O encontro foi mediado por Coryntho Baldez e Daniel Gallo.
O tema central girou em torno de como a educação é a chave de mudança para efetivar a inclusão das pessoas com deficiência na nossa sociedade.
É necessário combater a discriminação
Aurélio, ao iniciar o debate, disse que é necessária muita reflexão sobre os padrões e os parâmetros que tornam as pessoas aptas atualmente.
Em seguida, Luigi frisou que vivemos tempos difíceis, em que não existem mais máscaras para “encobrir” a discriminação. “É necessário combater com a educação essa intolerância, a qual afeta diariamente os alunos com deficiência e seus processos de formação”, destacou.
Os expositores concordaram acerca da necessidade de aumentar os investimentos nas escolas regulares, para que a eficácia do ensino inclusivo seja alcançada.
Aurélio propôs uma reflexão para o público: “Por que os alunos portadores de deficiência não atingiram o nível desejado em suas formações? Seria falta de cuidado com eles, falta de um olhar mais próximo?”
“A formação dos professores precisa ser aperfeiçoada”
Luigi afirmou que há uma forma de caminhar harmonicamente para um cenário mais inclusivo, mas enfatizou que o investimento público é primordial para que os docentes e os ambientes das escolas estejam habilitados para atender os estudantes com deficiência.
Ele lembrou, por exemplo, que somente 5,8% dos docentes da educação básica possuem formação para lidar com estudantes com deficiência. Os dois convidados concordaram que a formação dos professores precisa ser aperfeiçoada.
“A universidade tem a função de promover capacitação para os professores, e o investimento precisa estar por trás. O sucateamento é o pior dos fatores, o que mais nos atrapalha a oferecer um bom atendimento a pessoas com deficiência”, disse Luigi.
Inclusão na pandemia, no esporte e na sala de aula
O docente do Instituto Benjamin Constant, questionado sobre como vem sendo as aulas a distância, pontuou que para os alunos mais jovens o tato e contato pessoal são imprescindíveis.
“A educação inclusiva em isolamento é um grande desafio e existem muitas incertezas em torno da postura que a gente vem adotando, mesmo assim não podemos parar, precisamos buscar outros recursos e novas alternativas que atendam nossos alunos”, frisou Luigi.
O professor Aurélio, que coordena um projeto de extensão de inclusão social por meio do esporte na UFF, contou como a inclusão é primordial para a sociedade como um todo e não só para as pessoas com deficiência. Para ele, “o esporte é um meio de inclusão social”.
Aurélio defendeu ainda a importância de que seja garantido a esse público o direito de participar desses programas, assim como o acesso a livros adaptados e materiais especiais.
Questionados sobre como estimular a permanência dos alunos na escola, houve consenso sobre a de necessidade de uma reestruturação do modelo de avaliação atual, o que influenciará na retenção do estudante.
Ao final do debate, os professores destacaram que é imprescindível que haja um olhar específico e um suporte adicional para estudantes com deficiência. Os docentes precisam abraçá-los, essa é a única forma de se sentirem valorizados, concluíram.
Veja o debate completo no nosso canal do Youtube.