Cátedra Anísio Teixeira debate o “Comum” na formação docente e lança Conselho Consultivo
Por Coryntho Baldez
Foto abertura: Encontro inaugural da Cátedra Anísio Teixeira buscou aprofundar o debate do campo de produção de conhecimento voltado para a formação de professores. (Crédito: Edson Diniz)
Foi realizado, em 21 de maio, o encontro inaugural do ano da Cátedra Anísio Teixeira de Formação de Professores, iniciativa pioneira do CFP que se inscreve no âmbito do Programa de Cátedras do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE/UFRJ).
Realizado na sede do CBAE, no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, no Flamengo, o encontro reuniu expressivo grupo de pós-graduandos, licenciandos e docentes da Universidade e da escola básica.
Na ocasião, a coordenadora do CFP, Carmen Gabriel, proferiu a palestra Construir Comuns como Estratégia Política de Formação Docente. O evento também marcou o lançamento do Conselho Consultivo da Cátedra Anísio Teixeira, constituído por professores eméritos da UFRJ (veja membros ao final).
Giseli Barreto da Cruz, coordenadora adjunta de Ações de Formação e Pesquisa do CFP, ao abrir o encontro, ressaltou a responsabilidade de articular academicamente os trabalhos da Cátedra Anísio Teixeira de Formação de Professores, instituída em 2022.
Depois de lembrar que, no início, foi um privilégio para a UFRJ e o Complexo contar com o catedrático da Universidade de Lisboa, Antônio Nóvoa, como professor visitante, ela explicou que a cátedra surgiu como possibilidade de fortalecer o debate sobre a formação inicial e continuada de docentes na educação básica, no âmbito do Complexo.
A iniciativa, prosseguiu, se inscreve na continuidade do aprofundamento do debate que envolve as duas vertentes da formação de professores, pensando sempre na parceria universidade e escola.
A pesquisadora disse, também, que a Cátedra Anísio Teixeira “possibilita desenvolver redes nacionais e internacionais interinstitucionais em prol do fortalecimento da concepção de formação que instituiu o Complexo de Formação de Professores”.
Giseli anunciou que, mais à frente, será apresentada uma agenda de trabalho alinhada à perspectiva que orientou a criação da cátedra, voltada para promover estudos e pesquisas sobre ações formativas que possam adensar o debate do campo de produção de conhecimento voltado à formação docente.
Diretora do CBAE/UFRJ: “Complexo é marco no debate sobre docência”
Em seguida, a diretora do CBAE/UFRJ, Célia de Castro, sublinhou que o programa de cátedras e o programa de futuros são os dois eixos fundamentais de atuação do Colégio.
Segundo a dirigente, hoje existem 40 cátedras com temática extremamente diversa e o funcionamento delas depende principalmente do desejo de fortalecê-las.
“Só assim elas poderão cumprir a sua função principal de organizar debates e redes de especialistas que contribuam para aprofundar o debate sobre determinada temática”, destacou.
Célia afirmou ainda que o programa criou relações interessantes com cátedras de 14 centros ou institutos de universidades brasileiras, que constituem o Fórum Brasileiro de Estudos Avançados (Fobreav) – cuja presidência é hoje exercida pelo CBAE/UFRJ.
Uma das iniciativas que reforçará o Fobreav, segundo ela, é exatamente a discussão mais intensa sobre formação docente. Para a diretora do CBAE/UFRJ, o Complexo é um marco no debate sobre o futuro da docência e da universidade brasileira.
O Complexo, acrescentou, busca fomentar uma reflexão propositiva sobre como formar professores capazes de atuar com discernimento, criatividade e responsabilidade, tarefa importante especialmente “em um ecossistema educacional atravessado pela inteligência artificial e por outras tecnologias digitais”.
Para Célia de Castro, o encontro inaugural da Cátedra Anísio Teixeira é um convite à escuta, ao diálogo e à imaginação de alternativas para a formação de professores e de novos futuros possíveis e desejáveis para a educação pública brasileira.
”Comum, um conceito potente para pensar a formação de professores”

Giseli Barreto da Cruz (à esq.) coordenou o encontro e Carmen Gabriel proferiu a palestra Construir Comuns como Estratégia Política de Formação Docente. (Crédito: Edson Diniz)
Em sua fala, a coordenadora do CFP, Carmen Gabriel, explicou inicialmente que o evento foi pensado não em formato de conferência, mas para propiciar o aprofundamento do debate sobre a política universitária de formação docente.
Após rápida referência à história do Complexo, ela realçou que o CFP vem buscando articular todas as experiências de formação inicial e continuada da UFRJ, envolvendo o Colégio de Aplicação (CAp/UFRJ), a Faculdade de Educação e as suas 32 licenciaturas.
“Estávamos pautados em questões que nos eram caras e continuam sendo”, disse, ao mencionar os princípios que desde o início regem o Complexo: a horizontalidade entre saberes; a pluralidade de sujeitos e espaços; e a integração de ações de formação.
A dirigente destacou que a sua reflexão sobre o conceito de Comum – ou “Comuns” – está inscrita em sua trajetória profissional, estando presente tanto na gestão do CFP como em suas investigações acadêmicas como pesquisadora do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação (FE), na linha Currículo, Ensino e Diferença.
Ela disse que, desde que ingressou na UFRJ, vem trabalhando a questão de como a produção do conhecimento científico e escolar afeta outros campos, como o da formação de professores.
Carmen ressaltou que o conceito de Comum foi surgindo como uma chave de leitura importante, a partir do seu grupo de pesquisa, para pensar as políticas públicas na área da educação.
“A minha proposta aqui é trazer um outro sentido possível de Comum. É necessário pensá-lo a partir de outro lugar epistemológico e defender a potência desse conceito na elaboração de políticas públicas”, frisou.
Segundo Carmen, falar no Comum com essa perspectiva pressupõe, por exemplo, “apostar” na defesa da educação pública. Ela citou alguns contextos que hoje a fragilizam, como as políticas de privatização da educação e a lógica mercadológica que vigora em muitas escolas.
“A gente pode inclusive, com a ajuda do Luiz Antônio Cunha, pensar também a laicidade”, disse, ao lançar o desafio de mobilizar questões que atravessam a defesa da escola pública em que a ideia de Comum pode ser de grande auxílio.
Universidade precisa valorizar licenciaturas
Uma segunda aposta, segundo ela, seria pensar a universidade como espaço de formação profissional docente. Às vezes parece óbvio falar sobre isso – afirmou – mas essa é uma luta histórica, ou seja, fortalecer a universidade como lugar de formação de professores, especialmente para as séries iniciais.
“Isso pressupõe problematizar a própria cultura universitária, que focaliza e prioriza a dimensão da pesquisa e da produção do conhecimento”, sublinhou.
Antes de aprofundar o debate em torno do conceito de Comum, Carmen falou sobre uma “terceira aposta” que considera importante: pensar a escola pública como espaço de formação de professores.
Para isso, completou a pesquisadora, é imperioso assumir o espaço escolar não só como autoformação profissional, mas como lócus de formação das próximas gerações de professores.
Para assistir a palestra completa e o debate que se seguiu, acesse aqui.
Três integrantes do Conselho Consultivo da Cátedra Anísio Teixeira estavam presentes e cumpriram a função de debatedores: Ana Maria Monteiro, professora emérita da Faculdade de Educação (FE); José Sérgio Leite Lopes, professor emérito do Museu Nacional da UFRJ; e Luís Antônio Cunha, professor emérito da Faculdade de Educação (FE) da UFRJ.
Além deles, também fazem parte do Conselho Ana Lúcia de Almeida Soutto Mayor, professora emérita do Colégio de Aplicação (CAp/UFRJ), e Marieta de Moraes Ferreira, professora emérita do Instituto de História (IH/UFRJ).