Festival Com(ns)Ciência: estudantes miram futuro em meio ao caos da pandemia
Texto: Coryntho Baldez Ilustração: Rodrigo Rocha
“Com ação ambiental, é fácil e barato evitar futuras pandemias”. Provocador e atual, esse é o tema da palestra de abertura do Festival Com(ns)Ciência: entre escolas e universidades, promovido pelo Projeto Fundão Biologia, que acontece de 23 a 27 de novembro. A expositora será a professora Mariana Vale, do Instituto de Biologia da UFRJ.
O festival congrega trabalhos produzidos por estudantes de Licenciatura em Ciências Biológicas, orientados por docentes de Ciências e Biologia de escolas públicas do Rio de Janeiro, em parceria com professoras de Didática e Prática de Ensino da Faculdade de Educação (FE).
Há trabalhos sobre coronavírus e temas socioambientais
“Durante toda a semana, teremos a apresentação de uma série de vídeos que mostram atividades didáticas produzidas nessas interações entre a universidade e as escolas”, conta Maria Margarida Gomes, professora da FE e coordenadora do evento.
Segundo ela, que também é uma das coordenadoras do Projeto Fundão Biologia, o festival tem como principal finalidade a valorização do ensino de Ciências e Biologia neste período de pandemia.
Margaria sublinha que os participantes do evento são professores de Ciências e Biologia que trabalham com o projeto, estudantes de Ciências Biológicas e, ainda, alunos de ensino fundamental e médio.
Com muita qualidade e criatividade, os trabalhos inscritos abordam temas como o novo coronavírus, o negacionismo científico, questões socioambientais e formas alternativas de educar. Veja aqui a programação completa.
O festival, que será transmitido pelo canal no Youtube do Projeto Fundão Biologia, conta com o apoio institucional do Complexo de Formação de Professores da UFRJ e do Programa Ciências em Rede.
Materiais didáticos resgatam história do Fundão e da Maré
O estudante Érico Atílio apresentará o trabalho “Ilha do Fundão e Maré: entendendo o passado para pensar o futuro”. Trata-se de um material didático que, a partir da utilização de mapas, resgata a história social e ambiental dessa região.
“A utilização desse material em eventos acadêmicos e nas escolas da região são experiências ricas, a partir das quais podemos abordar de forma atrativa temas presentes no currículo de ciências e vinculá-los à realidade socioambiental”, diz.
Estudante do 12° período de Ciências Biológicas, Érico faz parte do Projeto Fundão Biologia como extensionista desde 2016. Nos últimos anos, participou de projetos em escolas da rede municipal e desenvolveu inúmeros materiais didáticos.
“Fazemos uma abordagem de temáticas do ensino de ciências e biologia de forma horizontal, fugindo da lógica tradicional na qual o professor fala e os estudantes escutam”, frisa.
“Festival veio em boa hora para os estudantes”
A equipe da estudante Mirian Sathler produziu dois vídeos sobre o “Experimento Ovo na Garrafa”, que trata da diferença de pressão atmosférica, para serem apresentados no evento.
Ela avalia que o festival é um importante momento para os estudantes do curso divulgarem os materiais didáticos que estão elaborando, “ainda que numa situação diferente da que gostaríamos”.
Miriam conta que de início foi desafiador construir o experimento, mas o processo foi se aprimorando com sugestões discutidas de forma coletiva.
“Fomos construindo um material que dialogasse com os alunos e tratasse do conhecimento científico de forma instigante, despertando a curiosidade. Buscamos que o aluno reflita e se questione ao produzir o conhecimento”, salienta.
Licencianda do 10° período em Ciências Biológicas, Miriam afirma que as vivências no Projeto Fundão Biologia enriquecem a sua formação como futura professora.
“Planejamos feiras de ciências, produzimos materiais didáticos, ministramos oficinas de experimentação e temos ainda um acervo histórico de livros didáticos”, enfatiza.
Um intercâmbio contínuo entre universidade e escola
Ao falar sobre a participação dos professores da FE no projeto, Margarida explica que existe uma equipe de docentes que atua nas áreas de Didática Especial e Prática de Ensino do curso de Ciências Biológicas e também no Projeto Fundão Biologia.
Esses professores, frisa, exercem suas atividades de extensão a partir de diversos subprojetos* (veja relação ao final) vinculados ao Projeto Fundão Biologia.
Segundo ela, todos se articulam entre si e com escolas e professores parceiros das redes públicas, produzindo materiais didáticos, aulas, oficinas, cursos e feiras de ciências para dinamizar o ensino de Ciências e Biologia, com destaque para ações de Prática de Ensino e de Estágio Supervisionado.
Além disso, acrescenta, cada um desses subprojetos agrega estudantes de licenciatura e bolsistas que exercem inúmeras atividades de extensão junto às escolas.
São ações relacionadas, por exemplo, ao resgate da memória do ensino de Ciências na UFRJ e no Rio de Janeiro e à preservação, produção e utilização de materiais didáticos, como coleções, experimentos, jogos e livros.
Há ainda atividades – completa Margarida – que se vinculam a debates sobre currículo e à promoção contínua do intercâmbio entre universidade e escolas para a melhoria da formação de professores e do ensino de Ciências e Biologia, entre outras.
Uma história de êxito na formação de professores
Criado em 1983, o Fundão Biologia é um dos mais antigos projetos de extensão da UFRJ. Quem lembra é a professora da FE Marcia Serra Ferreira, que o coordena desde 2006 ao lado de Margarida Gomes.
Segundo Marcia, ele foi concebido pela professora Maria Lúcia Vasconcellos, do Departamento de Zoologia do Instituto de Biologia, no contexto de uma iniciativa maior apoiada pela Capes: o Projeto Fundão: Desafio para a Universidade, coordenado pela professora Maria Laura Leite Lopes.
De lá para cá, diz ela, o projeto passou por muitas transformações. "Hoje, tem como finalidade principal a dinamização do ensino de Ciências e Biologia a partir da formação de professores”.
Esses objetivos, acrescenta, orientam os processos de formação a partir da construção de encontros entre professores de Ciências e Biologia que já atuam na educação básica e os professores em formação inicial.
Nos encontros, de acordo com a docente, são produzidas atividades de ensino e elaborados materiais didáticos para uso em aulas, oficinas, cursos, seminários e feiras de ciências.
“Todas essas ações são espaços nos quais os estudantes de Licenciatura em Ciências Biológicas passam por experiências de formação docente muito interessantes e profundas, em parceria com professores experientes que já atuam nas redes públicas de ensino”, conclui.
*Subprojetos vinculados ao Projeto Fundão Biologia
- Memória do ensino de Ciências na UFRJ: revitalização do acervo histórico do Projeto Fundão Biologia, coordenado pela professora Marcia Serra Ferreira;
- Materiais didáticos do Projeto Fundão Biologia – UFRJ: organização do acervo e de novas produções para o ensino de Ciências e Biologia, coordenado pela professora Maria Margarida Gomes;
- Educação Ambiental para professores da Educação Básica: perspectivas teóricas e práticas, coordenado pela professora Maria Jacqueline Girão Soares de Lima;
- As plantas e o ensino de Ciências e Biologia: uma experiência sensível na formação docente, coordenado pela professora Juliana Marsico Correia da Silva;
- Projeto Fundão Biologia nas fronteiras da diferença, coordenado pelo professor Thiago Ranniery Moreira de Oliveira.
Clique aqui para ter acesso ao link da programação
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