Professoras defendem ímpeto criador na escola contra o negacionismo

Por Lívia de Fátima Conceição

O Complexo de Formação de Professores promoveu, no dia 23 de julho, dentro da programação do Festival do Conhecimento da UFRJ, a décima live do Projeto Em Tempos Inéditos, intitulada "Escola Pública: Uma articulação necessária entre Ciência, Arte e Cultura".

Neste debate, foram convidadas a professora Anakeila Strauffer, da EPSJV (Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio), e Mônica Todaro, da UFSJ (Universidade Federal São João Del-Rei).

Espírito científico e politecnia

Ao iniciar a conversa, os mediadores levantaram questões como a necessidade de fortalecer a escola pública de qualidade e o papel da ciência, arte e cultura.

Para a professora Mônica, deve ter-se em mente que há qualidade na escola pública e que temos escolas - "no plural" - com sujeitos diferentes.

Já Anakeila trouxe uma perspectiva de que devemos saber que escola se tem para poder se pensar a escola que se quer, entendendo-a como um espaço de resistência. Ao falar sobre a arte e a ciência na escola, comentou:

"É nossa responsabilidade que o aluno da escola pública se sinta parte dessa ciência, do processo científico, de pensar a vida, questionar, estudar". Para ela, ao trazer o espírito científico para a escola pública, pode-se também trazer o ímpeto criador e afastar o negacionismo.

Ao ser questionada sobr a politecnia como uma abordagem pedagógica para uma formação menos fragmentada, a professora Anakeila explicitou as diferenças entre politecnia e polivalência.

"A primeira vem do pensamento marxista para confrontar a formação unilateral, que responde somente à divisão do trabalho capitalista. Já a segunda, significa dominar diversas técnicas para ser um melhor trabalhador para o capitalismo", relatou.

Tendo esses conceitos em mente, a professora registrou a importância da politecnia em diversos âmbitos educacionais, não somente do Ensino Médio, situando o trabalho como princípio educativo.

"A arte ajuda o sujeito a transgredir"

Para discutir sobre a ideia de corpo consciente e corpo domesticado - e sua relação com a ciência, arte e cultura -, a professora Mônica abordou a concepção "freireana" de corpo consciente como aquele que fala, escreve e luta.

É uma ideia política de resistência, sobrepondo-se à dicotomia mente-corpo. Mônica disse que, na escola, a mente é mais valorizada do que o corpo e o movimento é considerado dispersivo e "atrapalha a aula". Para ela, contudo, "nada é mais libertador que a arte", pois ajuda o sujeito a transgredir.

Ao responder a uma pergunta de uma professora sobre como quebrar a relação dicotômica entre corpo e mente na escola pública, Mônica relatou a importância de o diálogo não se restringir à fala, mas também incluir a escuta e o olhar. Além disso, discorreu sobre a cultura do silenciamento, que provoca esse engessamento nas práticas escolares.

Ao abordar o Projeto Político Pedagógico (PPP) e a sua possibilidade de estabelecer um diálogo com os diversos campos de conhecimento, Anakeila contou que essa foi uma das grandes luta para a construção de uma escola pública democrática.

Segundo ela, a partir do PPP, é possível provocar mudanças significativas na escola, construindo um espaço coletivo. Para Anakeila, "você precisa conhecer as dificuldades para ultrapassá-las".

O ciclo Em Tempos Inéditos é um conjunto de ações virtuais que inclui rodas de conversas, depoimentos, fóruns de discussão, debates ao vivo e entrevistas. O último debate online do ciclo foi realizado no dia 30/07.

Para ver a discussão completa acesse o nosso canal no YouTube.

Imagem: Sarau de estudantes de escolas públicas/Camila Souza